I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DO SAMBURÁ
Território, técnica, conhecimento e poder
De 16 a 19 de novembro de 2022
Território, técnica, conhecimento e poder
De 16 a 19 de novembro de 2022
Evento totalmente online
GT 3 - Arqueologia participativa, processos técnicos e conhecimento
Dia 18/11/2022
1 Arqueologia participativa na Aldeia Jaraguá de Monte-Mór, Rio Tinto, Paraíba.
Germana Karla Martins Soares da Silva
(PPGA/UFPB) germanakarla1@hotmail.com
Esta comunicação pretende apresentar as primeiras experiências de campo relacionadas ao estudo etnoarqueológico dos grupos domésticos Potiguara na Aldeia Jaraguá de Monte-mór no município de Rio Tinto, Paraíba. Nesta perspectiva, a Arqueologia participativa se coaduna com a Etnoarqueologia e Antropologia buscando estudar as relações destes grupos com a paisagem, seus objetos e cosmologias, possibilitando práticas onde a comunidade é protagonista da pesquisa arqueológica. Destarte, a comunidade da aldeia Jaraguá tem sido essencial no processo de construção, registro indicando e explicando os locais para atividades de agricultura, pesca, coleta, rituais, lugares de memória, entre outros, assim como, colaborando na divulgação e preservação deste conhecimento.
Palavras-chave: Potiguara; Paisagem; Arqueologia.
2 As cerâmicas do sítio arqueológico Moconha (Serra Grande) e a presença Tupi no Alto Sertão Paraibano.
Thamires Silva Cavalcante
(UEPB) thamiressilvacavalcante@gmail.com
Juvandi de Souza Santos
(UEPB) juvandi@terra.com.br
A ocupação Tupi no território paraibano concentrava-se de acordo com a historiografia, no litoral. Entretanto, achados arqueológicos especialmente de contexto fúnebre no interior da Paraíba, entregam novas perspectivas e propõem que esses povos estiveram distribuídos em outras áreas. O sítio arqueológico Moconha é um forte exemplo, estando localizado no município de Serra Grande, Paraíba, a mais de 400 km do litoral, próximo a estados com ocupação Tupi, o que teoricamente poderia facilitar o deslocamento desses povos. Os materiais encontrados consistem em fragmentos de cerâmicas, vasilhas classificadas como cambuchí camguâbá ou vasilha para beber com decoração pintada interna e externa ou plástica e urnas funerárias com material ósseo seguindo para a higienização e análise. Dentro da metodologia as análises são realizadas através do dentro LABAP- UEPB (Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB) através do PIBIC/CNPq, voltadas para a decoração pintada que é majoritária, indicar os elementos (materiais) utilizados para serem feitas e os prováveis significados. Ademais, as características gerais de fabricação, desde a friabilidade da pasta que pode possibilitar saber a localização de sua matéria-prima e o antiplástico de acordo com a sua composição granulométrica e do sedimento, visualizados em microscópio evidenciando minerais como, por exemplo, o quartzo e a queima completa ou incompleta desse material, além de indicar seu uso comum ou cerimonial. Todos esses aspectos são estudados com outras cerâmicas Tupis, demostrando resultados positivo principalmente em relação à geometria das pinturas. De acordo com tudo isso, objetiva-se comprovar a origem Tupi desse material arqueológico para traçar uma nova história pretérita paraibana dos povos indígenas.
Palavras-chave: Arqueologia; história indígena; cerâmica Tupi.
3 Espaços para os vivos e para os mortos: sítios com remanescentes humanos e suas diversidades artefatuais
Silvana Moreira da Silva
(UNIVASF) silvana.layse@hotmail.com
A pesquisa objetiva analisar dois sítios arqueológicos, Barra e parque das pedras, os quais apresentam material remanescente osteológico humano. O recorte espacial adotado na pesquisa está baseado na divisão geográfica estabelecida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o qual divide o estado da Paraíba em quatro mesorregiões, uma vez divididas em 21 microrregiões, onde se localiza o Cariri Ocidental, local de inserção do município de Camalaú. A região é classificada geograficamente como semiárida e sua geomorfologia conta com serras, rede de drenagem intermitente, sendo o principal rio o Paraíba. O objetivo do trabalho será abordar os sítios a partir do seu entendimento enquanto espaço funerário, levando em consideração os modelos de organização dos sepultamentos ou práticas funerárias, identificadas através do material artefatual e inserção espacial. A proposta é mostrar a relação desse material, suas similaridades, diferenças, estado de conservação, forma de deposição e suas relações com o contexto. O material será analisado a partir dos estudos em Bioarqueologia. O método utilizado para a leitura e discussões dos ambientes funerários será o da Arqueotanatologia. Os sítios Arqueológicos de Camalaú apresentam um papel significativo para decodificar parte do passado do atual território nordestino, corroborando com o entendimento ligado às práticas funerárias pretéritas. A Paraíba apresenta um excelente acervo de material arqueológico, seja na diversidade, quantidade ou estado de conservação, no entanto, as pesquisas voltadas para a temática da Arqueologia da morte ainda é bastante escassa, deste modo, o trabalho trará contribuições para futuras pesquisas.
Palavras-chave: Bioarqueologia; Arqueologia Funerária; Cariri Paraibano.
4 FORMAS DE ENTENDIMENTO E APROPRIAÇÃO DOS GRAFISMOS RUPESTRES: O CASO DOS SÍTIOS PEDRA DO INGÁ E ROÇA NOVA
Carlos Xavier de Azevedo Netto
(UFPB) xaviernetto@gmail.com
A tradição da pesquisa arqueológica em geral, e muito particular no Brasil, foi realizada de forma hierárquica e distante, na relação entre os pesquisadores acadêmicos e as comunidades em que os sítios estão localizados. De modo geral, as pesquisas eram conduzidas a partir da ótica exclusiva dos arqueólogos que, quando muito, repassam as informações que construíram para essas comunidades, do detentor para os receptores do conhecimento. Como advento da Arqueologia de Contrato, hoje preventiva, iniciou-se a preocupação com a chamada educação patrimonial como uma exigência que o conhecimento arqueológico fosse repassado às comunidades de entorno, mas a perspectiva hierárquica e de silenciamento das comunidades ainda foi mantido. Na atualidade, há toda uma preocupação com a participação efetiva dos grupos relacionados com o patrimônio arqueológico na construção do conhecimento, de forma simétrica, desse conhecimento, até como estratégia de maior aproximação dessas pessoas com esse patrimônio, apropriando-se dele e o interpretando de acordo com os seus entendimentos. Assim, a presente comunicação trará como exemplo dessas relações os fatos ocorridos nos sítios Pedra do Ingá, Ingá/PB, e o Roça Nova, Camalaú/PB.
Palavras-chave: Educação Patrimonial; Arqueologia participativa; Comunidades.
5 A arqueologia na cratera de impacto
Elissandro Voigt Beier
(UEM) elissandrovoigt@hotmail.com
O Cerro do Jarau, um ícone na literatura gaúcha e presente na história viva desta parte do território sul-americano, com um acúmulo de camadas distintas carregadas de aspectos históricos e de vivências desta disputada região da pretérita cisplatina. Recentemente identificado como um dos problemas, com uma característica típica, circularmente dispondo o sedimento com maior elevação a norte, formando um “Cerro”. A disposição circular das rochas permitiu uma fortaleza paisagística com aproximadamente 300 metros de altitude sobre uma paisagem aberta em todas as orientações geográficas, com a existência de abrigos rochosos entremeados pela vegetação. Esta muralha forma uma barreira contra o vento predominante, em uma paisagem aberta como o Pampa e proporciona uma gama de matéria-prima ampla e de grande potencialidade exploratória. A paisagem do sítio está inserida entre o Arroio Garupá e o rio Quaraí-Mirim, tendo um cercado hídrico que dista aproximadamente 2 quilômetros de distância, e que contornam a cratera em todas as faces, representando a cratera como uma ilha, no mar das planuras dos Pampas. A identificação de material arqueológico se dá no reverso da cratera, à face externa voltada a norte e nordeste, com a formação de uma camada de solo enegrecida entre 20 e 30 cm sobre a estrutura litológica alterada, com patamares em nível dispostos neste front, é possível observar grande gama de elementos arqueológicos inseridos em perfil e dispostos ao longo do campo de erosão desta camada sedimentológica. Estas paleopopulações que aproveitaram esta gama litológica transformada por meio deste evento natural se apropriaram destas litologias e as retransformaram através de técnicas consolidadas, ocorrendo lascamentos nesta grande jazida lítica e cujo sítio se encontra no ponto de impacto do corpo extraterrestre.
Palavras-chaves: Cerro do Jarau; Sítio arqueológico; Paisagens abertas.
Sessão do dia 19/11/2022
1 Corpo e paisagem – perspectivas sobre a construção de uma arqueologia da paisagem
Larice Almeida Marinho
(UFOPA) lariceamarinho@gmail.com
Myrian Sá Leitão Barboza
(UFOPA) myrianbarboza@yahoo.com.br
A arqueologia da Paisagem congrega elementos interdisciplinares de diversas linhas de pesquisa (MORAIS, 2000), elencando “paisagem” como indicador de dinâmicas de lugar e tempo, produto cultural, registro histórico e elemento da cultura material (SOUZA, 2007), bem como patrimônio (ROSAS et al., 2016) associado a instrumentos de proteção legal (FAGUNDES E PIUZANA, 2012). As concepções sobre paisagem convergem para o paradigma interposto pela maior parte dos estudos: binômio natureza e cultura (GOMES, 2021; ARRAES, 2017; VIVEIROS DE CASTRO, 1996), que se fundamenta em seu aspecto predecessor: a relação entre sujeito e objeto. A introdução de novas pesquisas têm ressignificado os traços de verticalização desse paradigma, apresentando a percepção das relações como interdependentes, principalmente, quanto aos agentes e processos de transformação da paisagem (GOMES, 2021), expressando caráter relacional entre seres, ambientes, seus corpos, práticas, cosmologias e, sobretudo, no diálogo que o ser humano desenvolve com o seu lugar no mundo (PELLINI, 2011), sendo lugar definido como centro de significado que confere senso de identidade (HODDER, 1987). Esse diálogo parte do princípio de que há um ponto vista, percepção ou posicionamento (ROGER 2007) – em caráter físico ou simbólico – em relação ao meio. Portanto, paisagem também é “corpo do mundo” (CARVALHO e STEIL, 2008), a partir do que se vê (conceito Paesaggio – o que se vê; ao alcance da vista – BRUNET, 1992). Na cosmologia ameríndia, o olhar também ocupa um lugar de destaque (SHIRATORI, 2019; VIVEIROS DE CASTRO, 2006) e se manifesta como projeção do corpo em seu engajamento com a paisagem (CSORDAS, 2008), se tornando um veículo de percepção e significação do ambiente (GRIZA, 2009). No entanto, para além do mundo capturado pela vista (ARRAES, 2017), é preciso pensar nele como um lócus de história, poder, conhecimento, de seres e suas relações (BASSO, 1996).
Palavras-chave: Paisagem; Corpo; Natureza; Cultura.
2 TRABALHO E ARTE: SABERES-FAZERES DOS ABRIDORES DE LETRAS DAS EMBARCAÇÕES PESQUEIRAS DE BRAGANÇA-PARÁ
Ellen Cristina da Silva Corrêa
(UFPA) ellen.correa@castanhal.ufpa.br
Roberta Sá Leitão Barboza
(UFPA)robertasa@ufpa.br
Este trabalho objetiva investigar os saberes e práticas dos abridores de letras de embarcações pesqueiras no município de Bragança, cidade localizada na região nordeste do Pará. O estudo intenta discutir de que forma se estabelecem as relações sociais a partir da verificação das atividades dessa categoria no intuito da identificação de práticas, saberes e costumes desses trabalhadores. Desta forma, objetiva-se entender o saber-fazer dos abridores de letras navais, assim como compreender a simbologia dos nomes dos barcos para esses sujeitos. Os principais métodos utilizados nesta pesquisa foram a pesquisa de campo e entrevistas. A proposição norteadora da pesquisa é a de que por meio da identificação de práticas, saberes e costumes possamos compreender de que maneira se dá a interação entre homem, embarcação e natureza e como processos culturais estão incutidos nas atividades feitas por esses profissionais. Dentre os autores utilizados para esta discussão estão: Martins (2008) e Lévi-Strauss (1989) que nos serviram de sustentação para o entendimento acerca de saberes tradicionais e científicos. Sobre Arte as informações trazidas por Ramalho (2007), Lukács (2018) e Rugiu (1998) nos esclarecem como a arte pode ser compreendida pelos sujeitos e estabelecida nos contextos em que ocorrem. Obteve-se como resultado a percepção de que na cidade referida há estreita relação dos abridores de letras navais com os nomes que pintam. Assim, depreendeu-se que os simbolismos presentes nos nomes das embarcações expressam as vivências desses especialistas e marcam os saberes-fazeres daqueles que materializam esses nomes, os abridores de letras. Outrossim, identificou-se que o saber-fazer do abridor de letras comporta bravuras no uso de conhecimentos para o desenvolvimento do seu ofício, aproximando saber tradicional e científico, com performance corporal e engenhosidade para pintar as letras das embarcações.
Palavras-chave: Saberes. Práticas. Significados. Nomes.
3 Experiências de Educação patrimonial no território Potiguara, litoral norte da Paraíba
Emerson Felipe da Silva
(FICS) efs.14@hotmail.com
Germana Karla Martins S. da Silva
(PPGA/UFPB) germanakarla1@hotmail.com
A educação patrimonial tem sido abordada nos estudos e práticas de Arqueologia participativa, pois possibilita o diálogo e protagonismo das comunidades. Atualmente empregada, ainda não concretizada de maneira indubitável, nas escolas Potiguara da Paraíba, independentemente de estarem categorizadas na educação escolar indígena, com aulas teóricas, práticas e teórico-práticas com os alunos das turmas do Ensino fundamental e do Ensino Médio. Para exemplificar podemos aludir para um relato de experiência de um determinado intercâmbio de saberes dentre as unidades de ensino: Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Azevedo, situada no centro de Baía da Traição, através do seu projeto escolar: “Trilha das Aldeias do Povo Potiguara” e Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental e Médio Cacique Domingos Barbosa dos Santos, situada na Aldeia Jaraguá em Rio Tinto, por meio do projeto: “Se Sabe de Repente”. O roteiro proposto pela escola municipal nessa ação, há qual pertence ao calendário de projetos do educandário, objetiva experienciar o patrimônio cultural do Povo Potiguara da Paraíba, rompendo os muros da escola e as aulas dos componentes curriculares Etno-história, Língua Tupi, Produção Textual e Ensino Religioso, de maneira interdisciplinar, conduzindo os discentes ao aprendizado significativo através de rodas de conversa propostas em locais que são marcos aos povos originários, em especial, ao Povo Potiguara.
Palavras-chave: Potiguara; Protagonismo; Educação patrimonial.
4 EU TIVE UMA INTUIÇÃO”: UM FILME ETNOGRÁFICO SOBRE O TRABALHO ARQUEOLÓGICO NO CARIRI OCIDENTAL PARAIBANO
Melba Godoi Vieira
(UFPB) melbagodoi@gmail.com
O presente trabalho apresenta a experiência etnográfica de observação participante por meio do registro visual no processo de escavação de um sítio arqueológico no município de Camalaú no Cariri Ocidental Paraibano, realizado pela equipe de profissionais do Laboratório de Arqueologia Brasileira da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) sob a coordenação do professor doutor Carlos Xavier de Azevedo Netto, objetivou-se na investigação conhecer e registar o trabalho da equipe na técnica de escavação em uma “exumação arqueológica” (Santos, 1999). Com a câmera na mão e anotações no diário de campo, debrucei-me nas meticulosas ações do grupo, na técnica, na cultura material e nas transformações do espaço através das ferramentas utilizadas, do conjunto de gestos da prática arqueológica e das ossadas humanas que sofreram a remoção e o deslocamento desde o sítio arqueológico em Camalaú até o laboratório da universidade em João Pessoa. Em “Eu tive uma intuição”: um filme etnográfico sobre o trabalho arqueológico no Cariri Ocidental Paraibano, apresento a experiência de campo e de laboratório de forma reduzida, com dezesseis minutos de duração, extraídos de mais de três horas de gravações das atividades do grupo na prática arqueológica, entrevistas com o dono do sítio em que foram encontrados os vestígios humanos e com um guia local, entusiasta do patrimônio arqueológico da região. O conjunto do material filmado, foi inspirado na Antropologia Fílmica preconizada por Claudine de France e Anne-Marie Pessis, constituindo um exercício de Etnografia da Ciência, com o propósito de formar um acervo imagético voltado à história e aos processos documentais da Arqueologia na Paraíba.
Palavras-chave: Trabalho Arqueológico; Antropologia Fílmica; Etnografia da Ciência.