I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DO SAMBURÁ
Território, técnica, conhecimento e poder
De 16 a 19 de novembro de 2022
Território, técnica, conhecimento e poder
De 16 a 19 de novembro de 2022
Evento totalmente online
GT 4 - PROCESSOS ESPACIAIS E SUAS DIMENSÕES TÉCNICAS
17/11/2022
Sessão 1 - Processos identitários, artesanato e patrimônio
Debatedora convidada: Myriam Fernanda Perret – UNAM - CONICET
1 Olhares sobre a produção artesanal entre os Tabajara da Paraíba
Andrey Regy Pereira Moraes
(UFPB) andreymoraesvisual@gmail.com
Maria Carolina Araújo Santos da Silva
(UFPB) carolinakanedart@gmail.com
A partir de um estudo centrado na Antropologia da Técnica, este trabalho aborda os aspectos das práticas do artesanato Tabajara da aldeia Barra de Gramame, no Litoral Sul da Paraíba, onde alguns aspectos de sua etnicidade são manifestados nas produções e utilizações ritualísticas e cotidianas dos artefatos e objetos artesanais, como a relação entre seus corpos e o fazer artesanal, as relações de troca entre “parentes” de outras nações indígenas, as influências e trocas de saberes que fortalecem suas noções de pertencimento, e como se dá essa relação com a construção dos estereótipos da indianidade promovidos pelo senso comum. O artesanato produzido na aldeia Barra de Gramame, pode ser caracterizado como arte plumária, tecelagem, artefatos de defesa e combate, escultura e entalhe em madeira e armadilhas para uso venatório, sendo assim, propomos compreender o processo cronológico e de distribuição da produção do artesanato - de onde vem, quem o faz, para onde vai - e as manifestações emocionais-afetiva envolvidas individual e coletivamente na construção e utilização desses objetos técnicos.
Palavras-chave: técnica; artesanato; etnicidade; indianidade.
2 “Aruanda: reflexões acerca dos saberes com cerâmica na Serra do Talhado-PB”
Hermana C. Oliveira Ferreira
(PPGS/UFPB) hermanacof@gmail.com
Neste trabalho busco refletir brevemente, a partir da cerâmica produzida por quilombolas na Serra do Talhado relacionando elementos culturais e saberes sociotécnicos desempenhados pelo grupo enquanto comunidade tradicional em paralelo às lógicas empreendedorísticas e de associativismo comunitário fomentadas pelas incipientes políticas públicas desenvolvidas no estado. Localizado no centro do Nordeste do Brasil e apesar de ser um pequeno estado demográfico e com relação à sua amplitude territorial, a Paraíba possui um reconhecido Patrimônio Histórico. Partindo do registro fílmico e etnográfico datado de 1960 e realizado por Linduarte Noronha – cineasta precursor do cinema novo, o conhecimento com a cerâmica no interior do estado tornou-se reconhecido em todo o país através do filme: “Aruanda”. O filme, por sua vez, é um dado etnográfico do Quilombo Olho d’Água, na Serra do Talhado, região limítrofe ao município de Santa Luzia, semiárido paraibano, e faz alusão à história de formação e sobrevivência da população quilombola no território. Apesar de amplamente utilizado no campo cinematográfico, os saberes identitários, isto é, os saberes sociotécnicos das comunidades quilombolas, permanecem negligenciados por políticas de valorização à cultura do local. Com trinta e nove famílias originárias da localidade a comunidade foi reconhecida enquanto quilombola somente em 2003. Apesar da certificação e reconhecimento pelo estado foi verificado forte êxodo rural da população da Serra do Talhado para a cidade – Santa Luzia. Embora essas reminiscências de processos industriais e de exportação de matérias-primas, a exemplo do algodão e observados a partir dos fragmentos de linhas e estações ferroviárias que adentram o estado e resistem de pé nos municípios do cariri, e nas cidades de Patos e Pombal, no alto sertão, as políticas de resgate desses saberes, permanecem tímidas. Por fim, busca-se abrir diálogo, acerca dos modos como os acessos aos artefatos da modernidade, tecnologias e equipamentos institucionais, são, até hoje, acessados de modo desigual, assim como a manufatura e consumo de toda uma infinidade de produtos, utensílios e objetos artísticos.
Palavras-chave: Saberes sociotécnicos; Antropologia visual; Comunidades Tradicionais; Políticas públicas.
3 O cocar de palha e suas dimensões identitárias e territoriais para os Potiguara
Lucas Gabriel Aires Coelho
(UFPB) aireslucas13@gmail.com
Aguynaiary Pontes Pessoa Gomes
(UFPB)
O presente trabalho trata do cocar de palha, um marcador da identidade do povo Potiguara, que ficou no esquecimento por muito tempo. Hoje, esse marcador identitário está ressurgindo e assumindo o protagonismo no que diz respeito aos símbolos visuais da etnia. Não se sabe ao certo quando surgiu o cocar de palha, mas, existem relatos como o de Seu Tonhô que pode nos mostrar o quão antigo ele é. Segundo seu Tonhô, ancião Potiguara, o cocar de palha está presente em sua família a no mínimo três gerações, o que nos leva a contabilizar pelo menos 150 anos. Antigamente o cocar era feito da palha da carnaúba, uma palmeira que já foi muito abundante na região do litoral norte paraibano, mas hoje já não é possível encontrá-la no território Potiguara. Atualmente é necessário se deslocar da Baía da Traição, até Canguaretama (RN) para conseguir a palha da carnaúba. No momento o resgate do cocar de palha vem se dando através de oficinas que acontecem geralmente nas escolas indígenas, para professores e alunos. A OJIP-(Organização dos jovens indígenas potiguara da PB) em parceria com o CIMI-(Conselho indigenista missionário) organizaram a primeira oficina de cocar de palha no ano de 2018, tais ações levaram jovens a se tornarem os principais multiplicadores da confecção e do uso do cocar. Durante os últimos anos muito se foi feito para revitalização do uso do adorno, os resultados das oficinas já podem ser vistos. Além do repasse da técnica, outro fator que confirma o quanto essas oficinas estão surtindo efeito é a adesão do povo ao cocar de palha em seus rituais, apresentações, e até mesmo em momentos individuais, como por exemplo, apresentações de trabalhos nas universidades. Nesses termos, além de ser símbolo de identidade étnica o resgate do cocar de palha tem fomentado o debate sobre a importância de se ter a carnaúba, árvore que faz parte da cultura ancestral do povo Potiguara, abrindo debates sobre o reflorestamento do território.
Palavras-Chave: Cocar; Identidade; Carnaúba; Território.
4 “Autenticidade” e Protagonismo: reflexões em torno da tentativa de criação do Centro Cultural Potiguara
D’ juliane Manoelly Benigno do Nascimento
(UFPB) djuliane_benigno@hotmail.com
O presente trabalho tem como objetivo apresentar as dinâmicas sociopolíticas envolvendo uma tentativa de construção do Centro Cultural Potiguara localizado na cidade de Rio Tinto-PB, que tinha como objetivo ser um lugar de integração e formação cultural contendo diversos espaços específicos para atividades e um museu que contaria a história desse povo. Contudo, este projeto não foi concluído, mas o ato de debatê-lo proporcionou uma série de discussões que apresentarei neste trabalho, fazendo uma análise a partir de uma oficina sobre objetos e tradição de conhecimento ministrada para os participantes, levantando questões sobre os aspectos sociotécnicos dos materiais e território, gerando divergências e reflexões entre os Potiguara sobre a indianidade, “autenticidade”, auto-imagem e representação, tendo em vista que abordará alguns aspectos das transformações técnicas e em como elas atuam nessa ação de repensar a cultura.
Palavras-chaves: Etnicidade; Processos Técnicos; Museu; Potiguara.
18/11/2022
Sessão 2 - Dinâmicas territoriais, identidades e processos técnico-políticos
1 Raízes na maré: algumas reflexões sobre a dinâmica dos grupos domésticos no Porto do Capim, João Pessoa-PB
Marlon Nilton da Silva Galvão
(UFPB) marlon_20097@hotmail.com
A comunidade Ribeirinha do Porto do Capim, em João Pessoa, Paraíba, tem uma rica trajetória de formação e defesa de um território próprio. Tomando corpo a partir das décadas de 1930/40 a comunidade recebe diversos fluxos de pessoas e com o tempo compreende tal diversidade como parte constituinte de sua identidade a partir da relação com a maré (ASSAD, 2017). A partir destas questões o presente trabalho se propõe a trazer algumas reflexões sobre a formação da identidade ribeirinha presente nos moradores do Porto constituída a partir da relação cotidiana entre os grupos domésticos e os grupos com o ambiente a partir do conceito de dominialização (BARBOSA DA SILVA & MURA, 2018). A partir deste fluxo de pessoas, ideias e materiais, queremos trazer luz a algumas dinâmicas que são norteadoras da formação desta identidade e a relação entre esta e a luta pela permanência da comunidade em seu território, já que atualmente segue em processo de disputa com a prefeitura de João Pessoa que planeja a remoção da comunidade para a construção de um equipamento turístico.
Palavras-chave: Dinâmica territorial; Grupos Domésticos; Porto do Capim; João Pessoa.
2 Experiências com a linguagem guarani entre os Guarani Ñandéva na Tekoa Ywy Porã (Abatiá-PR)
Patricia Carola Facina
(PPGA/UFPB) patriciacfacina@gmail.com
Este trabalho busca refletir sobre a reativação da língua guarani entre unidades domésticas Guarani Ñandéva na Tekoa Ywy Porã (Abatiá-PR), entrecruzando contextos sociais vividos no passado por este grupo - por eles e seus ascendentes - com o contexto atual, em que estes estão tendo acesso a um novo repertório de possibilidades (BARBOSA DA SILVA; MURA, 2018) que proporcionam novas estratégias no reavivar da fala guarani. Entrecruza-se a este debate a conotação da língua como habitual sinal diacrítico para demarcar as diferenças étnicas (OLIVEIRA, 1988), assim como o entendimento de que a linguagem guarani se constitui num veículo através do qual a palavra assume relevância cosmológica (SCHADEN, 1974). Observamos nesta aldeia um processo de desenvolvimento de uma linguagem que tinham contato, que muitos aprenderam em algum momento da vida, mas que pelos contextos vividos houve um distanciamento, tendo a possibilidade de retomar este uso/comunicação na atualidade. Se faz importante pontuar que há diferenças entre as famílias nucleares no que diz respeito a fala guarani. Diferentes famílias vivenciaram diferentes trajetórias, e viveram experiências distintas, produzindo com isso uma relação diferente no que diz respeito ao re-avivamento e/ou aprendizado da língua guarani. Deste modo, perpassaremos por um debate que se desenha dentro de um processo de etnogênese, apontando para as dinâmicas territoriais vivenciadas pelos grupos domésticos- que desencadearam diferentes experiências práticas - assim como realizaremos uma análise concatenando o repertório de possibilidades às técnicas utilizadas pelos (“novos”) falantes da língua guarani neste processo atual.
Palavras-Chave: Guarani Ñandéva; língua Guarani; dinâmicas territoriais;etnogênese.
3 Apuntes sobre territorialidad y género. Experiencias etnográficas en comunidades mbya guaraní, Paraguay
Carolina Rodríguez, Doctoranda Antropología Social
EIDAES – UNSAM, becaria CONICET. caroliroes@gmail.com
En la década de 1970 ingresa a Paraguay un modelo de agricultura que trae nuevas tecnologías e importantes oleadas migratorias desde el sur de Brasil. Comienza la mecanización de los cultivos y, a partir de la década de 1990 con la soja transgénica, se da una expansión masiva de monocultivos al interior de la Región Oriental. En un periodo de tiempo muy corto –dos o tres generaciones- el 90% de la cobertura boscosa fue deforestada. Actualmente la región se compone de poblaciones con múltiples dimensiones socioculturales, donde conviven grupos con distintos intereses. Para el Pueblo Mbya, los sucesivos procesos de colonización, entre ellos la sojización, han significado la pérdida de sus territorios. Ante el avance de la deforestación, la opción de correrse a los montes para evitar conflictos con los colonos deja de ser posible. Sin embargo, esto no implicó que se atengan exclusivamente a la configuración espacial impuesta. Las personas mantienen la movilidad por el territorio, reuniones y tangara (danzas-rezos) en el opy (recinto ceremonial), rituales (ñemongarai, aty guasu) así como también utilizan los ambientes creados por los jurua (blancos): núcleos urbanos, hospitales, comercios, universidades, campos de soja. Los jurua forman parte de sus relaciones y vínculos interpersonales, tanto conflictivos como afectivos. Sabemos muy poco acerca de cómo las mujeres mbya vivencian estas transformaciones. Los cambios se hacen más evidentes al observar nuevos liderazgos y su participación en espacios no tradicionales (lideresas, funcionarias estatales o de ONGs), pero también se dan a niveles más íntimos. Nos proponemos abordar la relación entre género y territorialidad, en especial desde la perspectiva de las mujeres, pero atendiendo asimismo las diversas masculinidades, el factor generacional y el relacionamiento interétnico. Para ello abordamos 1) el espacio “doméstico”, las actividades diarias, y 2) la participación de mujeres como articuladoras de los espacios comunitarios e intercomunitarios. En estos trabajos, las mujeres nos mostraron diversos sentidos y maneras de practicar sus teko (modos de vivir) y de posicionarse ante las sociedades, la propia y la jurua.
4 El “saber hacer” que acompañó las dinámicas territoriales mbya desde los marcos de la memoria (1930-1970)
Carla Golé
Doctoranda en Antropología – FFYL-UBA carlagole@gmail.com
En este trabajo recupero los aportes de subdisciplinas antropológicas que abordan el conocimiento: aquellos de la antropología de la educación y los de la antropología de la materialidad y de la técnica, que puestos en diálogo con la antropología de la memoria me permite abordar los procesos de conocimiento y educativos que acompañaron las dinámicas territoriales entre los/as mbya que actualmente residen en aldeas ubicadas en el sudoeste de la provincia de Misiones (Argentina). Desde esos marcos fundamento el estudio de algunos procesos de conocimiento mbya entendidos como un “saber hacer” (Lave y Wenger, 1991) práctico necesario para su reproducción cultural y material. A partir de mi trabajo etnográfico y sobre la memoria tracé las trayectorias de movilidad de algunas familias mbya siguiendo los desplazamientos territoriales de algunos/as interlocutores/as mbya a lo largo de dos generaciones e indagando sobre las actividades productivas que realizaban, para aproximarme a conocer sus formas de organización y subsistencia en distintos momentos del siglo XX. De este modo me propongo analizar la complejización del “ambiente técnico” (Mura, 2011), las continuidades o transformaciones en los contextos de aprendizaje y las habilidades y estrategias implementadas para reproducir el modo de vida mbya en momentos de agudización de la “desterritorialización”, sobre todo a partir de la década de 1960, cuando se aceleraron los cambios en la estructura social agraria de la provincia caracterizados por la tendencia de las actividades económicas al modelo agroindustrial. Asimismo, fue en ese período, cuando los/as indígenas comenzaron a aparecer como “problema” porque colonos y empresarios se encontraban con asentamientos indígenas en tierras consideradas fiscales o privadas (Schvorer, 2011, p. 17).
Palavras-chave: “saber hacer”, movilidad, actividades productivas, “ambiente técnico”.
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19/11/2022
Sessão 3 - Habilidades, conhecimentos e processos sociotécnicos
1 Dimensões técnicas da catação de materiais recicláveis em Porto Velho Rondônia na constituição da identidade de catador(a)
Betânia Maria Zarzuela Alves de Avelar
(UFPB) betavelar.amazonia@gmail.com
Pondera-se aqui sobre a possibilidade de reflexão e análise dos processos espaciais e suas dimensões técnicas no tocante das interrelações de aspectos ambientais, materiais, sociais, políticos, econômicos, técnicos e simbólicos. A partir disso, o presente trabalho pretende observar as contribuições das dimensões técnicas da atividade de catação realizadas por catadores(as) de materiais recicláveis em Porto Velho, capital do estado de Rondônia, na qualidade de organização técnica que caracterizam e constituem sua identidade de catadores(as). Quando verificamos que a principal atividade desta categoria de trabalho constitui-se da separação dos resíduos passíveis de reciclagem, representando quase que a “fase inicial” do processo técnico da cadeia produtiva da reciclagem, observamos que o território em que se realiza a atividade estabelece uma importante categoria de análise sócio-ecológica-territorial (MURA, 2011). Esse território que pode ser constituído pela lixeira pública de Porto Velho, quando se trata dos(as) catadores(as) no aterro controlado, ou mesmo nas ruas da cidade de Porto Velho, com os(as) catadores(as) de rua, no intuito de estabelecer uma compreensão entre elementos humanos e não humanos se relacionando entre si, formando com isso sistemas sociotécnicos. Esta análise de um determinado contexto sócio-ecológico-territorial (MURA, 2011) definido a partir da relação entre o cenário de disponibilidade/acessibilidade dos elementos de seu universo com um repertório de possibilidades não desenvolve relação sociotécnica apenas produtiva, mas também de uso, agregando a relação outras relações de uso, valor, e sobretudo política. Caracteriza-se e constitui-se, assim, a identidade de catador, mediante o processo de reconhecimento da atividade de catação, meio da sua identidade coletiva, pertencente a um grupo que se organiza enquanto movimento social compreendendo sua importância sociopolítica.
Palavras-chave: Catação; Identidade de Catador; Dimensões Técnicas.
2 Apontamentos teórico-metodológicos para o estudo de interações sociotécnicas: um olhar para populações em contextos de exclusão social
Carlos Eduardo Falcão Luna
(UFPE) carloslunna@tear.art.br
Isaac Fernando Ferreira Filho
(UFPB) isaacmob@gmail.com
O objetivo deste trabalho é fazer apontamentos teórico-metodológicos trazendo um diálogo entre a Geografia e a Antropologia da Técnica para uma abordagem das interações sociotécnicas em localidades em situação de exclusão social. Utilizamos o termo interações, com o intuito de escapar das limitações de termos como “inclusão digital”, “inovação social”, “inovação inclusiva”, etc, pois entendemos que: 1) os processos de aquisição de habilidades técnicas ou uso das técnicas e tecnologias da informação e comunicação para a resolução de problemas locais são fluídos e não lineares; 2) que não se pode dissociar o uso tecnologias do contexto social em que elas são praticadas, por isso a abordagem sociotécnica (THOMAS, 2009). A nossa abordagem interdisciplinar pressupõe: Caracterização socioespacial, a partir do conceito de formação socioespacial (SANTOS, 1977), nela além de resgatar o processo de ocupação do espaço em relação com os processos sociotécnicos, é imprescindível uma abordagem decolonial (CRUZ e OLIVEIRA, 2017), para o contexto do sul global; A observação de como as cadeias operatórias, nessas localidades, são concatenadas (LEROI-GOURHAN, 1987; CRESWELL, 1994; SIGAUT, 1994). Tal caracterização, pode ser feita através de diagnósticos sociais, mapeamentos colaborativos, cartografias sociais; estudo dos aspectos sociotécnicos, os quais a tipologia dos recursos de Warschauer (2006) pode ser uma chave, pois ela engloba quatro tipos de recursos (físicos, digitais, humanos e sociais); os agenciamentos para as dinâmicas sociotécnicas, como Redes, Sistemas de Inovação, Arranjos, etc. Reiteramos que esta é uma proposta de percurso teórico-metodológico para o estudo de interações sociotécnicas em contexto de exclusão social, que visa a observação das dinâmicas e agenciamentos, deixando de lado uma análise de sucessos, insucessos ou resultados lineares de processos endógenos ou políticas públicas, tentando focalizar nos fluxos materiais (MURA, 2011), do que qualquer tentativa de diagnóstico linear.
3 Registro de dados audiovisuais em 360° com os tabajara: técnicas e tecnologias digitais em processos de documentação de sistemas sociotécnicos
Glauco Fernandes Machado
(UFPB) glaucomachadofotografia@gmail.com
Acompanhando os avanços da discussão sobre o uso da câmera na Antropologia e das reformulações tecnológicas desse aparato de registro, a pesquisa propõe discutir essas possibilidades de filmagem em 360° que possibilitam a expressão dos conhecimentos, das memórias e das articulações sobre produções com e a respeito dos grupos / colaboradores pesquisados, enredado com as tomadas de decisão, seleções do que será captado, com manipulações, estratégias para a reprodução da cultura, assim como suas transformações, aprendizagens e habilidades de operações para o uso desse tipo de ferramenta de captação audiovisual. A pesquisa se debruça a respeito da câmera de 360 graus, podendo ser utilizado óculos de realidade virtual para apreciação desses registros, aplicada no campo da Antropologia, com experimentos na etnia Tabajara. A investigação tem como foco registros audiovisuais de coisas e ações relacionais entre pessoas e o cenário dentro do sistema sociotécnico. A seleção dessas imagens produzidas foi feita levando em conta o diálogo com o indígena Tabajara, Juscelino Silva de Souza, a partir da sua concepção do que é um elemento produzido para fins de reafirmação étnica do grupo ao qual ele pertence. A investigação traz outras reflexões com bibliografias relacionadas ao assunto, procura evidenciar o papel dos processos técnicos no fortalecimento da identidade étnica Tabajara da Paraíba, mostra que ações, atividades, conhecimentos e habilidades práticas que constituem um conjunto técnico capaz de articular sobre processos identitários e as formas de perceber e de fazer desenvolvidas na dinâmica do território.
4 Organização doméstica, gênero e habilidades técnicas: um estudo entre grupos domésticos potiguara da Paraíba
Marianna de Queiroz Araújo
(UFPB) mariannaqueirozaraujo@gmail.com
A presente pesquisa focaliza atividades domésticas voltadas a transações técnico-econômicas, desenvolvidas por mulheres potiguara no interior de ambientes diversificados, sendo estes partes constitutivas do território habitado por estes indígenas. Tais atividades são o resultado de escolhas e estratégias organizadas para atender às necessidades de grupos domésticos (grupos familiares de pelo menos três gerações, com cooperação entre seus membros e obrigações de reciprocidade), conformando propriamente uma ecologia doméstica. Os processos técnicos que resultam dessa ecologia estão centrados nas experiências individuais e coletivas em manguezais, várzeas e resquícios de Mata Atlântica, bem como em contextos urbanos, permitindo o desenvolvimento de habilidades e a aquisição de saberes sobre técnicas e materiais bastante diversificados, a partir do aprimoramento de um conhecimento tradicional local. A compreensão de base é a relevância de explorar um aspecto como o desenvolvimento das habilidades técnicas em mulheres e sua importância para a reprodução do grupo doméstico, além de entender como são construídas as estratégias de obtenção e uso de recursos.
Palavras-chaves: ecologia doméstica, gênero, habilidades técnicas, indígenas potiguara.