I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DO SAMBURÁ
Território, técnica, conhecimento e poder
De 16 a 19 de novembro de 2022
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De 16 a 19 de novembro de 2022
Evento totalmente online
GT 5- ALIMENTO E SUAS HISTÓRIAS: panoramas da alimentação em meio as relações de vida
17/11/2022
1 A BUCHADA DE GALINHA DA BICA DOS COCOS: O PROCESSO DE GASTRONOMIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE BANANEIRAS-PB
Josélio Sales
(PPGA/UFPB) zeliosales@gmail.com
A atividade turística enquanto fenômeno social transforma patrimônios em “produtos turísticos”, como é o caso da gastronomia ao mobilizar a alimentação além da função nutricional, configurando-a com novos valores. O fenômeno vem acontecendo em Bananeiras-PB, onde a comida é “gastronomizada” em busca de novos consumidores. A gastronomização é entendida aqui como a descoberta e a transformação de cozinhas regionais pelo turismo ao fazer “pequenos ajustes”. Entre os pratos típicos do município paraibano está a buchada de galinha, que reinterpreta a buchada caprina[2], usando as vísceras da ave. A diferença é que a bolsa que acondiciona os “miúdos” não é feita do estômago, mas composta de pele da ave, vinda de suas coxas, pescoço ou outras partes. Depois, as bolsas são cozidas no molho da própria galinha, e servidas acompanhadas de arroz branco, pirão e vinagrete. Embora o prato não seja autóctone, é apresentado como produto típico do Restaurante Bica dos Cocos (a 1,5 quilômetros da cidade) e integra a rota gastronômica Caminhos do Frio. A proposta do trabalho, que faz parte de uma pesquisa de doutorado em curso, é compreender como o prato foi introduzido em Bananeiras, os agentes deste processo e que instrumentos usaram para a divulgação da iguaria. Além disso, busco perceber como a Rota Cultural Caminhos do Frio contribuiu para a gastronomização da cozinha regional, seja ela de pratos autóctones ou introduzidos localmente e, em seguida, ressignificados.
Palavras-chave: Buchada de Galinha. Bica dos Cocos. Gastronomização. Bananeiras-PB.
2 “QUER COMER O QUE?”: O DESEJO DO ALIMENTO AOS PACIENTES TERMINAIS EM CUIDADOS PALIATIVOS PORTADORES DE CÂNCER
Weverson Bezerra Silva
(UFPB) weversonsilbez@gmail.com
Esse resumo tem como objetivo compreender as experiências e práticas das nutricionistas que trabalham na ala dos pacientes em cuidados paliativos do Hospital Napoleão Laureano (HNL), referência no tratamento de pessoas portadoras de câncer no Estado da Paraíba. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que se apoiou na observação participante na perspectiva da “etnografia hospitalar”. Diante disso, o trabalho traz uma descrição do campo e discute o modo que as nutricionistas elaboram as relações entre alimentação e bem-estar dos pacientes que são/estão considerados em “fora de possibilidades terapêuticas” (FPT) e de que modo entendem o trabalho do cuidado junto a eles. As experiências e prática das profissionais da saúde levam a pensar sobre aspectos técnicos, como também põem em evidência dimensões intersubjetivas no encontro dos profissionais com os pacientes, com seus familiares e no diálogo com as experiências pessoais de vida e morte através da alimentação. A literatura consultada situa as práticas analisadas no contexto dos diversos movimentos sociais que surgiram no mundo todo em prol da melhoria do moribundo e autonomia do espaço do morrer “uma boa morte”. Essas práticas proporcionam bem-estar aos pacientes em cuidados paliativos, com uma representatividade importante no processo de tratamento, crescendo os ânimos de vida no sentido emocional. Mesmo que em situações particulares, determinada alimentação possa causar algum efeito ao corpo, os processos de cuidado com os pacientes giram em torno de três aspectos, o físico, o emocional e o psicológico. Esses desejos pela comida se cruzam e sedimentam as relações sociais institucionais, como a comida remete a memória sobre o passado e presente do paciente. As reivindicações criadas por esses movimentos sobre autonomia, contemplaram o indivíduo e seu direito social ao processo de morrer, apontadas para mudanças no modelo da morte contemporânea voltadas para as pessoas sob cuidados paliativos. Palavras-Chave: nutricionistas; alimentação; antropologia da saúde.
Palavras-Chave: nutricionistas; alimentação; antropologia da saúde.
3 O “tudo junto misturado” de Seu Real: A alimentação e as relações no ambiente no povo Xukuru do Ororubá
3. Fabricio Brugnago
fabricio.brugnago@gmail.com
Seu Real é agricultor indígena Xukuru e possui um roçado na área do Limão, próximo à aldeia de Canabrava, região da Serra no território Xukuru do Ororubá, Pesqueira, Agreste Pernambucano. Em seu roçado foi construído uma cozinha onde Real prepara o alimento para si e para as pessoas que trabalham com ele, na qualse alimentam do que é produzido e coletado no próprio local. Seu Real pratica uma alimentação que ele chama de “Tudo Junto Misturado”, que é o resultado de ciclos, itinerários e práticas. A sua alimentação está ligada a um modo de vida enquanto agricultor, que valoriza conhecimentos familiares, porém em constante mudança pelas suas pesquisas sobre relações no ambiente, produzindo técnicas a partir de experiências, observações e processos intuitivos por sensibilizações. O “tudo junto misturado” da panela, é o resultado de práticas que valorizam o “tudo junto misturado” nas relações no ambiente, seja na diversidade de cultivos por ação direta, quanto por ação indireta, ao manter espécies nativas a partir dos valores agregados por conhecimentos. Apresentarei neste debate as relações no ambiente com Real, da cozinha às práticas de manejo no campo como indissociáveis entre si, utilizando de observações e previsões do tempo, cuidados de cultivos e do ambiente. O conhecimento de seu Real será apresentado como conhecimento tradicional local a partir de Ingold, em um skill indissociável do local que se expande a partir da fé, que para seu Real está ligada ao acreditar nas suas experiências e processos intuitivos. Palavras Chave: Xukuru do Ororubá; alimentação modo de vida; conhecimento tradicional local; relações no ambiente
4 Simbologia e uso das “plantas do passado” entre vendedoras do principal mercado público de Santarém (PA)
Ádyla Wilsiandra Valente de Souza
Myrian Sá Leitão Barboza
O Mercadão 2000 representa o principal mercado popular da cidade de Santarém, no oeste do Pará, onde são comercializados impressionante variedade e quantidade de produtos medicinais, artesanais, dentre outros, e sobretudo alimentícios. A partir de um levantamento bibliográfico preliminar e conversas realizadas com vendedoras de plantas (frutas, verduras, raízes, folhas, etc.) no Mercadão 2000, investigamos o que se entende pela categoria “plantas do passado” e se estas ainda são utilizadas no presente. As vendedoras são detentoras de um rico repertório de saberes relacionados à coleta, ao preparo, uso, consumo e venda das “plantas do passado”. As mulheres expressaram a importância simbólica e utilitária das “plantas do passado” no cotidiano e nos rituais de suas famílias e da população santarena. Para elas, a continuidade dos saberes e usos das “plantas do passado” é um ponto crucial, onde as mulheres atuam como principal detentora e mensageira do domínio fitocultural que é transmitido desde as antigas gerações. As vendedoras aprenderam a cuidar das plantas desde crianças com as suas bisavós, avós e mães. Nesse grupo de trabalho pretendemos debater o papel das mulheres na transmissão de conhecimentos relacionados ao uso, cuidado, e preparo das “plantas do passado”, seja nos usos familiares e pessoais, como nas relações de negociação e venda entre os consumidores.
Palavras-chave: Mulheres; Transmissão de conhecimentos geracionais, Plantas do passado; Amazônia.
5 Seguindo os animais desde o criadouro até a mesa dos terreiros: relações mais que humanas e comida no candomblé
Daniela Calvo
CETRAB (Centro de Tradições Afro-Brasileiras)
e-mail: dnlclv7@gmail.com
Neste trabalho exploro os valores socioculturais e biológicos ligados à produção e ao compartilhamento dos alimentos no candomblé, com particular atenção à produção das relações mais-que-humanas (entre humanos, animais, plantas, minerais, orixás, antepassados e outros seres espirituais e a terra) mediante o compartilhamento da comida e de sua força vital. Em particular, exploro dois caminhos que podem seguir os animais: desde a criação até a alimentação com suas carnes e o uso das outras partes (como a pele e os chifres), passando pelo processo de domesticação (que inclui a criação de relações de familiaridade), a sacralização, o preparo das carnes e as oferendas para os orixás, os antepassados ou outros seres espirituais nas festas para os orixás; e um caminho que termina com o enterro do animal, que neste caso vai nutrir a terra, em caso de “oferendas de substituição”, em que problemas graves de saúde e risco iminente de morte são enfrentados substituindo a vida da pessoa com aquela do animal (geralmente uma cabra). Nesse percurso, os animais aparecem à luz da ontologia híbrida do candomblé, em que todos os seres mais-que-humanos são, ao mesmo tempo, parte de um emaranhado de linhas de vida e participações e seres dotados de consciência, experiência e sensibilidade. Isso implica uma ética específica, baseada no cuidado e no respeito, formas de comunicação e response-ability para verificar o consentimento do animal a oferecer sua vida para a comunidade (e evitar de proceder caso certos comportamentos se verificam) e ações ritualizadas para minimizar o sofrimento do animal.
Palavras-chave: candomblé, alimentação, sacrifício animal, domesticação.
6 REPRODUÇÃO ALIMENTAR CULTURAL DOS POVOS INDÍGENAS DA AMAZÔNIA E SEUS DESDOBRAMENTOS SOB A LUZ DO DECRETO N.º 6.040/07.
Ramiro Hitotuzi Gomes
Universidade Federal do Amazonas e-mail: ramirohitotuzi@hotmail.com
Este trabalho tem como objetivo pesquisar a questão da reprodução cultural alimentar dos Povos Tradicionais na Amazônia, e o que a Política nacional de desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais, a PNPCT, instituída no Brasil a partir do decreto 6.040 de 7 de Fevereiro de 2007, aborda em seu escopo sobre este tema. A partir da investigação bibliográfica realizada contributiva de códigos normativos, livros, revistas e periódicos, fora desenvolvido uma pesquisa qualitativa. Foi identificado, neste estudo, que a necessidade da reprodução da alimentação cultural, no que concerne aos Povos Tradicionais, autóctones, habitantes na região Amazônica brasileira, tem relação com a salvaguarda identitária, território, cultura, organização social, religião, ancestralidade e econômica. Também identificamos que na PNPCT há dispositivos que regulam o acesso e efetivação ao território, a recursos naturais, à reprodução das práticas geradas e transmitidas por meio da tradição e que respeitem a diversidade cultural especifica de cada povo e que sejam ambiental, cultural, econômico e socialmente sustentável. Palavras-chaves: Alimentação, Reprodução Cultural, Povos Indígenas, Amazônia;